Inflação leva mais estudantes a recorrer a refeições sociais

© Facebook

O aumento dos preços está a levar os estudantes a recorrerem mais às cantinas, como a “Cantina Velha” da Universidade de Lisboa, que servia cerca de 400 refeições diárias e agora rondam as 1.600.

Nas cantinas da Universidade de Lisboa (UL), o preço de uma refeição custa 2,80 euros, ou seja, “é mais barato do que a refeição confecionada em casa”, contou à Lusa Helder Semedo, do Conselho Geral da UL.

Segundo Helder Semedo, nota-se um crescimento de refeições vendidas, com destaque para a Cantina Velha: Em 2019, antes da pandemia, aquele refeitório situado na cidade universitária “servia entre 400 a 500 refeições diárias e agora ronda as 1.600”, revelou.

A inflação também está a afetar a vida dos estudantes “que se queixam que antes pagavam cerca de 60 cêntimos por uma lata de atum e agora pagam 1,5 euros”, disse.

O atum é apenas um exemplo da recente subida de preços, já que o valor do cabaz alimentar aumentou 22% no último ano. Se em fevereiro do ano passado, um cabaz custava 184 euros, o mesmo cabaz ronda agora os 230 euros, segundo contas da DECO divulgadas esta semana.

Para muitos alunos, a solução passa pelas cantinas das escolas, onde uma refeição inclui sopa, prato e fruta. Helder Semedo revelou que até os micro-ondas, que antes tinham muita utilização, agora são pouco usados.

À Associação Académica da Universidade de Lisboa (AAUL) já chegaram alguns pedidos de ajuda, segundo o presidente da AAUL, Afonso Garcia.

“O custo de vida de um estudante em Lisboa é muito superior ao de outras cidades, mas a verdade é que também no Porto e em Coimbra a situação está mais difícil”, afirmou.

A Lusa contactou a Federação Académica do Porto (FAP) que representa 70 mil alunos e confirmou que a situação é semelhante.

“Têm chegado alguns pedidos de ajuda”, disse a presidente da FAP, alertando para a probabilidade de existir uma “realidade escondida pelo estigma”: “Certamente que existem casos que não nos chegam pela vergonha de pedir ajuda”, disse Ana Gabriela Cabilhas.

“O aumento dos preços é sentido pelos alunos no supermercado, em alimentos como carne, laticínios, ovos, cereais, congelados ou enlatados”, contou.

Além de mais alunos à procura de refeições a preços sociais, no Porto aumentaram também as “filas para os micro-ondas” de alunos que, provavelmente, antes almoçavam fora.

Segundo a presidente, “nota-se um aumento das dificuldades para suportar os custos associados à frequência do ensino superior em relação ao ano passado, mas também em relação ao semestre letivo anterior”.

Ana Gabriela Cabilhas lembrou que o orçamento disponível das famílias “está a diminuir, ao passo que os custos de frequência estão a aumentar”.

“Aumentou o custo dos alimentos no supermercado, aumentaram as despesas de habitação, de eletricidade, mas também dos materiais de estudo, como é exemplo, os cursos de arquitetura e artes plásticas, que já obrigam os estudantes a ter que fazer escolhas sobre que materiais abdicar de comprar”, exemplificou.

Perante a pressão do aumento da inflação observa-se também no agregado familiar, que “tem que reduzir despesas para permitir que os filhos continuem a estudar. E isto, por sua vez, causa angústia nos estudantes”, sublinhou.

A situação poderá agravar-se, no próximo ano letivo, caso o Governo não altere a atual legislação, que define que o valor das refeições nas cantinas está indexado ao IAS (Indexante dos Apoios Sociais).

“O IAS aumentou e se o Governo não avançar com medidas legislativas, as refeições podem subir para o dobro em setembro”, alertou Helder Semedo.

Tanto a AAUL como a AFP realizaram em 2022 inquéritos junto dos alunos que revelaram haver uma percentagem elevada de jovens com dificuldades em pagar as contas e um número também elevado de estudantes que já tinham equacionado abandonar os estudos.

Em média, entre 10 a 12% dos alunos do 1.º ano desistem de estudar, segundo dados oficiais.

A estes somam-se os números do acesso ao ensino superior que revelou que este ano mais de 10% dos alunos que entraram na primeira fase do concurso não se matricularam, ou seja, mais de 5.000 alunos colocados não concretizaram a sua inscrição.

Não há estudos sobre os motivos para não terem aceitado a vaga, mas Afonso Garcia acredita que em muitos casos as questões financeiras foram decisivas.

Últimas do País

O vento continua a condicionar hoje o movimento no Aeroporto Internacional da Madeira – Cristiano Ronaldo e nenhum avião conseguiu aterrar ou descolar, segundo a ANA- Aeroportos de Portugal.
O presidente do Governo da Madeira disse que já tinha combinado na sexta-feira com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, o envio de meios da Proteção Civil do continente para a região.
Familiares do preso político luso-venezuelano Williams Dávila, atualmente num hospital local, pediram ao Governo da Venezuela para não o enviar de novo para a cadeia, advertindo que estariam a condená-lo à morte.
A Madeira vai receber 80 elementos da Força Especial dos Bombeiros, que chegarão à região na próximas horas para ajudar no combate ao incêndio rural iniciado na quarta-feira e com várias frentes ativas, anunciou hoje o Governo Regional.
A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio que deflagrou na sexta-feira à tarde na zona industrial do Prior Velho e destruiu mais 200 viaturas, tendo as operações de rescaldo terminado pelas 02:00 desta madrugada.
A PSP recebeu, em menos de 10 anos, quase 3.000 denúncias relacionadas com abandono de animais de companhia e identificou mais de 1.200 suspeitos pelo mesmo crime, divulgou hoje, Dia Internacional do Animal Abandonado, esta polícia.
Cerca de 50 famílias estão hoje a receber apoio clínico, social e psicológico no Curral das Freiras, na Madeira, depois de esta noite terem sido retiradas das suas habitações devido ao incêndio que atinge a freguesia, indicou o Governo Regional.
Nove hospitais têm hoje 11 serviços de urgência encerrados, nas áreas de Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, segundo as Escalas de Urgência do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Grande parte do interior Norte e Centro do país continuam hoje em risco máximo de incêndio, assim como os municípios algarvios de Monchique, Silves, Loulé, São Brás de Alportel e Tavira, indicou o IPMA.
Quase 5.900 doentes foram internados em casa no primeiro semestre do ano, mais 19,5% comparativamente ao mesmo período do ano passado, permitindo reduzir a demora média de internamento e aliviar os hospitais em 54.135 dias de internamento.