Funcionários judiciais manifestam-se e exigem respostas ao atual Governo

Cerca de uma centena de funcionários judiciais manifestaram-se hoje no Campus da Justiça, em Lisboa, e exigiram respostas às suas reivindicações com uma greve que, segundo o sindicato, regista perto de 80% de adesão a nível nacional.

© DR

Convocada pelo Sindicato dos Funcionários Judiciais (SFJ), a greve às manhãs de trabalho deixou o Juízo Central Criminal de Lisboa sem funcionários na manhã desta sexta-feira, num retrato que, segundo o presidente do SFJ, António Marçal, se repete facilmente noutros pontos do país diariamente, face ao défice de profissionais.

“A indicação que tenho é que é expectável que 200 diligências na área de Lisboa sejam hoje adiadas ou canceladas. Estamos a falar de cerca de 80% de adesão, que são números que não são muito difíceis de alcançar, porque num dia normal sem greve também já só estão presentes cerca de 60% dos oficiais de justiça que deviam estar. Faltam 40% de funcionários”, afirmou à Lusa.

Apesar da manhã de frio e chuva na zona do Parque das Nações, os funcionários concentraram-se diante da Direção-Geral de Administração da Justiça (DGAJ), num protesto que contou também com a presença da coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, que se solidarizou com as reivindicações dos oficiais de justiça, como a integração do suplemento de recuperação processual no vencimento ou as progressões na carreira.

“É também a vida de muitos cidadãos que precisam de recorrer à justiça e fica suspensa. Sem oficiais de justiça, os inquéritos não andam sozinhos”, vincou António Marçal, sublinhando o impacto da previsível aposentação de 400 profissionais em 2024: “Podemos chegar ao final do ano com um défice acima dos 2.000 funcionários. O Governo não pode empurrar para o próximo Governo procedimentos que demoram”.

António Marçal assumiu mesmo que “está em causa o estado de direito” e defendeu que o poder político é responsável por dar condições à justiça portuguesa para funcionar, considerando que o atual governo, apesar de estar em gestão, pode tomar medidas imediatas.

Para João Gonçalves, de 48 anos, o tribunal de Sintra, da comarca de Lisboa Oeste, é um dos exemplos de dificuldades para servir os cidadãos. Descrevendo uma “realidade péssima”, em que os “processos urgentes são despachados a muito custo”e onde existe um défice de 40% de profissionais naquele tribunal, o funcionário judicial realça que a carência chega aos 60%, se se somarem as baixas médicas numa classe envelhecida.

“Há uma grande falta de pessoal e o serviço não consegue ser feito a tempo e horas.Para se auxiliar o senhor magistrado nas diligências, o trabalho na secção fica por fazer e o cidadão é mal servido, porque a justiça — as ordens emanadas pelo senhor magistrado — nunca são cumpridas no tempo em que deviam ser”, explica.

Natural da zona das Beiras, João Gonçalves vive na região de Lisboa, mas lembra que é “praticamente impossível” a um funcionário judicial em início de carreira sobreviver com cerca de 800 euros de ordenado.

Por isso, apela ao Governo — o atual ou o que vier a ser eleito — para reabrir a porta das negociações: “Aquilo que os oficiais pedem não são valores que não sejam comportáveis para a economia do país. Haja vontade política para que isso seja feito”.

Com 52 anos, Anabela Martins conta à Lusa que é uma das trabalhadoras mais novas no tribunal do Barreiro e que tal situação traça um retrato “ridículo” do setor, em que há “mil e uma coisas” a fazer todos os dias.

“É muito complicado no Barreiro e no país inteiro. Sou uma das pessoas mais novas do tribunal, não temos pessoas novas. Cada vez há mais processos, não conseguimos fazer tudo no horário de serviço e exigem que façamos fora do nosso horário. Eu estou na base da carreira quando já devia estar a chegar ao topo”, lamenta.

Anabela Martins aponta ainda o trabalho especializado dos oficiais de justiça e a ausência de reconhecimento em termos financeiros, como o não pagamento das horas extraordinárias passadas em interrogatórios e outras diligências.

Revela ser cada vez mais frequente haver colegas que têm de encontrar outro trabalho para conseguirem pagar as contas, mas nem isso evita que alguns tenham mesmo de voltar a viver com os pais.

“Arranjar um segundo emprego também é complicado, porque temos exclusividade.Para termos um segundo emprego temos de pedir autorização ao Ministério [da Justiça] e não podemos ter um part-time… Tenho conhecimento de colegas que tiveram de voltar para casa dos pais e é complicado voltar, ao fim de 20 ou 30 anos a viver por conta própria”, conclui.

Últimas do País

O vento continua a condicionar hoje o movimento no Aeroporto Internacional da Madeira – Cristiano Ronaldo e nenhum avião conseguiu aterrar ou descolar, segundo a ANA- Aeroportos de Portugal.
O presidente do Governo da Madeira disse que já tinha combinado na sexta-feira com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, o envio de meios da Proteção Civil do continente para a região.
Familiares do preso político luso-venezuelano Williams Dávila, atualmente num hospital local, pediram ao Governo da Venezuela para não o enviar de novo para a cadeia, advertindo que estariam a condená-lo à morte.
A Madeira vai receber 80 elementos da Força Especial dos Bombeiros, que chegarão à região na próximas horas para ajudar no combate ao incêndio rural iniciado na quarta-feira e com várias frentes ativas, anunciou hoje o Governo Regional.
A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio que deflagrou na sexta-feira à tarde na zona industrial do Prior Velho e destruiu mais 200 viaturas, tendo as operações de rescaldo terminado pelas 02:00 desta madrugada.
A PSP recebeu, em menos de 10 anos, quase 3.000 denúncias relacionadas com abandono de animais de companhia e identificou mais de 1.200 suspeitos pelo mesmo crime, divulgou hoje, Dia Internacional do Animal Abandonado, esta polícia.
Cerca de 50 famílias estão hoje a receber apoio clínico, social e psicológico no Curral das Freiras, na Madeira, depois de esta noite terem sido retiradas das suas habitações devido ao incêndio que atinge a freguesia, indicou o Governo Regional.
Nove hospitais têm hoje 11 serviços de urgência encerrados, nas áreas de Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, segundo as Escalas de Urgência do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Grande parte do interior Norte e Centro do país continuam hoje em risco máximo de incêndio, assim como os municípios algarvios de Monchique, Silves, Loulé, São Brás de Alportel e Tavira, indicou o IPMA.
Quase 5.900 doentes foram internados em casa no primeiro semestre do ano, mais 19,5% comparativamente ao mesmo período do ano passado, permitindo reduzir a demora média de internamento e aliviar os hospitais em 54.135 dias de internamento.