Do YouTube para as salas de cinema, criadores de conteúdos desafiam Hollywood

Dentro de menos de dois meses, o filme “Ryan’s World Movie: Titan Universe Adventure” será o primeiro de sempre integralmente feito por criadores de conteúdos do YouTube a ter distribuição alargada nas salas de cinema, um sinal de mudança na indústria. 

© D.R.

“É um filme que faz parte da economia de criadores desde o início ao fim”, disse Carin Davis, diretora de desenvolvimento do pocket.watch, um estúdio digital que está a trabalhar para levar personalidades do YouTube para o grande ecrã.

Ryan é um Youtuber de 12 anos que tem uma fortuna de mais de 100 milhões de dólares e um canal com 37,2 milhões de seguidores. O seu filme estreia-se a 16 de agosto e mistura imagem real com animação, numa aventura de baixo orçamento virada para as audiências familiares.

“Olhamos para a Hollywood tradicional e o que eles querem são filmes com propriedades intelectuais estabelecidas que já vêm com a sua audiência”, afirmou Carin Davis, que falava num painel da conferência anual de vídeo VidCon, na Califórnia.

“Eles olham para livros, bandas desenhadas, ‘remakes’. O que estamos a dizer com este filme é que estes criadores são propriedades intelectuais conhecidas, que vêm com uma audiência garantida”, salientou.

Um dos focos da edição deste ano da VidCon, que termina hoje em Anaheim, foi precisamente o futuro da indústria de entretenimento e a ascensão de modelos alternativos de sucesso.

Erik Davis, diretor de conteúdos sociais na Fandango (‘site’ de venda de bilhetes), destacou os exemplos recentes de Taylor Swift e Beyoncé, que alcançaram milhões nas bilheteiras ao negociar a exibição dos seus filmes de concertos ao vivo diretamente com as salas de cinema.

“As audiências estão a olhar para o grande ecrã e a dizer que querem algo diferente”, afirmou Erik Davis, referindo que “há espaço para filmes de orçamento mais baixo” como “Ryan’s World”.

“O passa-palavra nas redes sociais e ‘sites’ como Rotten Tomatoes explodiu de forma inédita”, afirmou. “Há uma fome de descoberta, para saber o que assistir a seguir”.

O especialista disse ainda que este é um momento propício para “conteúdos multigeracionais”, que possam ser vistos por toda a família.

Carin Davis disse que a pocket.watch está a ser abordada por todo o tipo de marcas e criadores, que querem seguir o exemplo de “Ryan’s World”, e se o filme for bem sucedido já está a ser considerada uma sequela.

“No futuro, vamos ver cada vez mais lançamentos no cinema de filmes de criadores de conteúdos”, vaticinou a responsável, apontando para um horizonte entre cinco e dez anos. “Alguns criadores têm audiências maciças e tão apaixonadas por eles que podemos levá-los para as salas de cinema”.

Do lado do YouTube, a diretora de parcerias com jovens Alexis Rice disse que há um crescimento exponencial do consumo de vídeos na televisão, e esse é o ecrã que mais cresce. Cerca de 30% dos vídeos do YouTube são visualizados em televisões inteligentes, na sala de estar, com toda a família.

“O que vemos agora quando falamos com os miúdos é que todos querem ser criadores”, revelou a responsável. “Os criadores estão a moldar a cultura que pode impulsionar as receitas de bilheteira”, considerou.

As tendências de pesquisas no Google ilustram esta direção, com “Ryan’s World” a suplantar o interesse em filmes dos grandes estúdios, como “Divertida-mente 2”, da Disney, e “Panda do Kun-Fu 4”, dos estúdios Universal.

EvanTube, criador de vídeos no YouTube desde criança, também esteve na VidCon e falou sobre os seus projetos no futuro, que passam agora pela Escola de Cinema. “Quero criar as minhas ideias originais”, referiu, considerando que este movimento do pequeno para o grande ecrã é imparável.

“Crianças a criarem conteúdos no YouTube é algo inevitável”.

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