MP contesta audição de Pedro Sánchez em caso que envolve a mulher

O Ministério Público espanhol contestou hoje a audição do primeiro-ministro Pedro Sánchez por um juiz no âmbito do caso em que a sua mulher está a ser investigada por suspeita de tráfico de influências e corrupção.

© Facebook de Pedro Sánchez Pérez-Castejón

Pedro Sánchez foi convocado na segunda-feira para ser ouvido na qualidade de testemunha no próximo no dia 30 de julho de manhã no Palácio da Moncloa, a sede da presidência do Governo de Espanha, local até onde se deslocará o juiz que tem a instrução do caso.

O Ministério Público (MP) apresentou hoje um recurso, citado por vários meios de comunicação social espanhóis, em que pede que seja cancelada a audição de Sánchez, argumentando que “não é necessária, útil ou pertinente”.

O MP sublinha que apesar de “todo o tipo de diligências” já levadas a cabo, este processo não tem até agora resultados relevantes nem foram alcançados “os fins pretendidos” e critica que não tenha havido “ponderação nenhuma sobre a proporcionalidade” da decisão de ouvir Sánchez, “atendendo ao previsível impacto e repercussão” a par do “conhecido e previsível vazio de provas”.

Para o MP, pode estar em causa o princípio de igualdade dos cidadãos perante a lei, que “não pode tornar de pior condição quem exerce um cargo público relevante (nem a sua esposa)” com um “tratamento processual diferente ou mais grave do que o resto dos cidadãos”.

O MP pede que caso o juiz insista na sua decisão, que Sánchez testemunhe por escrito, como prevê a legislação espanhola para membros do Governo quando estão em causa questões relativas ao cargo que exercem.

Este recurso soma-se a outro apresentado também hoje pela defesa da mulher do primeiro-ministro espanhol, Begoña Gómez, que argumentou que não existe “o mais mínimo indício” que justifique a audição de Sánchez, atribuindo-a apenas à vontade do magistrado.

O juiz que tem a instrução deste caso aceitou na segunda-feira o pedido para Sánchez ser ouvido apresentado pelas designadas “acusações populares”, que se constituíram na sequência da abertura da investigação judicial e que são encabeçadas pelo partido de extrema-direita Vox.

Na sexta-feira passada, Begoña Gómez invocou o seu direito ao silêncio e não foi ouvida pelo juiz que tutela o caso, com a sua defesa a justificar que não estão asseguradas “as garantias” previstas num Estado de direito.

O advogado de Begoña Gómez considerou, em declarações a jornalistas, que o juiz de instrução do caso não delimitou o objeto da investigação e realçou que dois relatórios da equipa de investigação policial enviados ao juiz concluíram que não existem indícios de irregularidades.

A investigação que envolve Begoña Gómez tem como base queixas de associações ligadas à extrema-direita e centra-se, em particular, na sua relação profissional com um empresário cujas empresas negociaram ajudas públicas ou participaram em concursos públicos num período em que Pedro Sánchez já era primeiro-ministro.

Em linha com as conclusões da investigação policial, o Ministério Público considerou não haver fundamentos no caso e pediu o arquivamento.

O juiz de instrução, no entanto, considerou haver indícios suficientes para continuar com a investigação e tem chamado diversas pessoas para prestar declarações.

Sánchez e o Partido Socialista espanhol (PSOE), que lidera, têm reiterado não haver nada que fundamente esta investigação judicial e que está em causa uma perseguição política e pessoal ao chefe do Governo e à sua família.

Juntamente com a lei de amnistia para os independentistas catalães, este caso é há várias semanas o principal alvo de ataque ao primeiro-ministro e foi também o motivo que levou Sánchez a ponderar demitir-se no final de abril.

Afirmou-se vítima, com a família, de uma “máquina de lodo” que difunde mentiras e desinformação na Internet que são depois levadas para o debate político pela direita e pela extrema-direita e judicializadas com queixas de associações extremistas.

Últimas do mundo

A UNICEF alertou hoje para a grave situação de desnutrição aguda que se propaga rapidamente nas áreas controladas pelo Governo internacionalmente reconhecido do Iémen, com níveis “extremamente críticos” em crianças menores de cinco anos da costa ocidental.
Paetongtarn Shinawatra, filha do controverso bilionário e antigo primeiro-ministro tailandês Thaksin, foi hoje empossada como nova chefe de governo pelo rei Maha Vajiralongkorn, no final de mais uma crise política no país.
Uma organização não-governamental venezuelana denunciou que as mulheres detidas no país são constantemente sujeitas a tratamentos desumanos que vão de tortura física e psicológica à recusa de cuidados médicos adequados.
A Comissão Europeia enviou hoje um pedido de informações à Meta, ‘gigante’ tecnológica dona do Facebook e do Instagram, sobre a descontinuação do CrowdTangle, uma ferramenta para monitorizar desinformação ‘online’, questionando quais as medidas adotadas para o compensar.
A Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) voltou hoje a pedir às autoridades que respeitem os direitos dos venezuelanos perante a “incerteza” dos resultados das presidenciais de julho, em que Nicolás Maduro foi reeleito, mas que a oposição contesta.
O Papa Francisco disse hoje estar muito preocupado com a situação humanitária em Gaza, e voltou a apelar para um cessar-fogo, pedindo ainda que seja seguido “o caminho da negociação para que esta tragédia termine logo”.
O número de 40 mil mortos hoje anunciado na Faixa de Gaza em dez meses de guerra com Israel representa um “marco sombrio para todo o mundo”, lamentou o alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk.
A reunião promovida pelos mediadores internacionais para discutir um acordo de cessar-fogo em Gaza começa hoje em Doha, Qatar, e deverá prolongar-se durante vários dias, com a ausência do movimento islamita palestiniano Hamas.
Um ‘rocket’ caiu hoje ao largo de Telavive, de acordo com o Exército israelita, que reportou um disparo a partir da Faixa de Gaza, ataque já reivindicado pelo braço armado do Hamas palestiniano.
Três anos após o regresso dos talibãs a Cabul, o Afeganistão tem uma economia de "crescimento zero", com a população atolada na pobreza, uma crise humanitária que se agrava e sem esperança de melhoria num futuro próximo.